Helvetica e Objectified

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2018

Depois de ter lançado, em 2007, o documentário sobre a tipografia Helvetica, o diretor Gary Hustwit apresenta Objectified, o seu segundo filme sobre design cuja première em São Paulo aconteceu no dia 19 de Junho, no Instituto Tomie Ohtake, por iniciativa do novo escritório de design Boldº.

Em Helvetica, o assunto gira em torno do design gráfico: a onipresença da fonte no ambiente urbano é mostrada em cenas gravadas nos Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Alemanha e Suíça, entre outros. Na primeira parte do longa, a história do projeto da fonte é revelada e o filme desenrola-se através de entrevistas com designers gráficos e tipógrafos emblemáticos de várias gerações: Massimo Vignelli, Matthew Carter, Wim Crouwel, Erik Spiekermann, Neville Brody, Stefan Sagmeister, Michael Bierut, Paula Scher, Jonathan Hoefler, Tobias Frere-Jones, etc. A sequência das entrevistas mostra como a adoção ou a rejeição total da Helvetica, desde os anos 1960 até hoje, foi de certa forma determinante para a própria história do design gráfico.

Como o próprio nome sugere, Helvetica trata de um tema mais restrito e certamente mais obscuro para platéias leigas. Assentado em uma narrativa cronológica, o filme começa com o projeto de sinalização do metrô de Nova Iorque, realizado por Massimo Vignelli, em 1966, e termina com a reflexão do crítico Rick Poynor sobre a democratização das tecnologias digitais (em redes sociais como o MySpace, segundo o seu exemplo), que hoje permitem o usuário criar seus próprios designs e utilizá-los para expressar a sua identidade. Cinquenta anos da cultura visual global bem explicados em oitenta minutos.

 

Com o mesmo estilo apurado e envolvente de linguagem cinematográfica, Objectified segue o formato de Helvetica. Investiga, porém, os objetos manufaturados que nos cercam, os profissionais e os processos por trás da sua criação e produção, e a relação que o público estabelece com o uso dos objetos contemporâneos produzidos em larga escala. Dessa vez, os entrevistados foram escolhidos entre os célebres profissionais do campo do desenho industrial: Dieter Rams, Jonathan Ive, Ronan e Erwan Bouroullec, Karim Rashid, Paola Antonelli, Naoto Fukasawa e Chris Bangle são alguns dos nomes que aparecem no filme.

Em Objectified, Hustwit usa, digamos, uma cronologia da vida dos objetos como pano de fundo para o turbilhão de informações e reflexões que quer transmitir: designers > processos criativos > designs > produção industrial > consumo > descarte. Passamos a primeira parte do filme seduzidos pela beleza dos objetos mostrados e pelo discurso aficcionado dos seus criadores, quando então a narrativa começa a tocar nos assuntos críticos que estão na pauta do dia, como obsolescência planejada, descartabilidade, sustentabilidade.

O jornalista Rob Walker questiona, no final do filme: “O que você levaria consigo caso ocorresse um furacão?” Ou seja, quais são os objetos que realmente importam na sua vida? Entre o prazer e a culpa por desejar e consumir objetos novos, o espectador deverá sair do cinema com múltiplas questões para pensar posteriormente, mas muito mais informado sobre o complexo mundo do design industrial.

Em ambos os filmes, olhar e refletir sobre o design através do filtro poético e inteligente de Hustwit é uma experiência prazerosa e transformadora. Em última instância, a iniciativa independente e corajosa desse diretor serve como um exemplo e um estímulo, para que cada vez mais ações como a sua contribuam para o registro e a divulgação do design.

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